Horizontes

Espero do leitor que abra um livro de poesia como se abre uma caixa de fósforos: fazendo a cada poema o que se faz quando se risca um fósforo, para que ele se acenda e o seu fogo ilumine ou incendeie quem o lê.

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Dignidade

A vida é maravilhosa, mesmo quando dolorida.

Eu gostaria que na correria da época atual a gente pudesse se permitir, criar uma pequena ilha de contemplação, de autocontemplação, de onde se pudesse ver melhor todas as coisas: com mais generosidade, mais otimismo, mais respeito, mais silêncio, mais prazer.

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Tempo

Eu não amava que botassem data na minha existência. A gente usava mais era encher o tempo. Nossa data maior era o quando. O quando mandava em nós. A gente era o que quisesse ser só usando esse advérbio.

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Plenitude

Só podes encontrar-te contigo mesmo
se estiveres em silêncio.

As muitas influências do exterior
debilitam-te.

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Palavras

Ensinavam-me, e eu aprendia:
O homo faber; o homo sapiens; o homem é um animal racional; os homens descobriram o fogo; os homens da pré-história; o homem é um animal religioso; os patriarcas; deus é pai; os faraós; o homem é um animal social; os filósofos gregos; os imperadores romanos; as eternas aspirações do homem; os guerreiros, os cavaleiros, os soldados, os marinheiros; os descobridores, os aventureiros, o homem da renascença; o homem tem sede de conhecimento; os físicos, os matemáticos; os homens lutam pela sua liberdade; os homens e a sua angústia vivencial; os operários, os capitalistas; os homens fazem o progresso técnico; os homens do governo; a declaração dos direitos do homem; os homens da imprensa; os homens lutam pelo poder; a exploração do homem pelo homem; milhões de homens morreram na guerra; os homens de boa vontade; a arte é uma necessidade do homem; o homem face à natureza…

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O silêncio

Minha única vocação é o silêncio. Foi meu pai que me explicou: tenho inclinação para não falar, um talento para apurar silêncios. Escrevo bem, silêncios, no plural. Sim, porque não um único silêncio. E todo o silêncio é música em estado de gravidez.

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Contemplação

A camélia sobre o musgo do templo, o violeta dos montes de Kyoto, uma chávena de porcelana azul, essa eclosão de beleza pura no centro das paixões efémeras, não é ao que todos nós aspiramos?

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Passar à outra margem

Passar à outra margem não significa necessariamente uma deslocação para outra parte diferente daquela onde já nos encontramos. 

Às vezes tudo o que nos falta é habitar a nossa vida de outro modo. 

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Felizmente existem os livros

Podemos esquecê-los  numa prateleira ou num baú, deixá-los entregues ao pó e às traças, abandoná-los na escuridão das caves, podemos não lhe pôr os olhos em cima nem tocar-lhes durante anos e anos, mas eles não se importam, esperam tranquilamente, fechados sobre si mesmos para que nada do que têm dentro se perca.

José Saramago

Noite

Preciso muito de noites, alimento-me delas, da solidão da casa quando já todos se deitaram, do silêncio apenas longe a longe interrompido por breves ruídos (o estalar dos móveis, uns passos ou um desentendimento entre os gatos, a respiração respirando), do tempo que parece ter parado.

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